Equação de referência para o teste de caminhada de seis minutos e avalia- ção da variabilidade da frequência cardíaca em mulheres com esclerose sistêmica
Palavras-chave:
Esclerose Sistêmica, Teste de Caminhada de Seis Minutos, Capacidade Residual Funcional, Frequência Cardíaca - FisiologiaResumo
Introdução: Esclerose sistêmica (ES) ou esclerodermia é uma doença imunomediada complexa do tecido conjuntivo, caracterizada por fibrose progressiva devido à deposição de colágeno. Há uma enorme preocupação para a necessidade de triagem precoce, busca de novas terapias e monitoramento mais próximo de pacientes com ES associada à doença pulmonar intersticial (ES-DPI) antes que ocorra deterioração irreversível da função pulmonar. O principal mecanismo subjacente parece ser o comprometimento da microcirculação, com vasoreatividade anormal devido a disfunção do sistema nervoso autonômico (SNA), que está associada ao risco de arritmias e mortalidad, além de ser um marcador de progressão da ES. Por se tratar de um preditor independente de mortalidade relacionada à ES, o teste de caminhada de seis minutos (TC6M) se coloca como uma ferramenta potencialmente útil na avaliação dos desfechos junto aos testes de função pulmonar (TFP). Objetivos: Construir uma equação de referência para o TC6M, considerando a função pulmonar e muscular em mulheres com ES e, ainda, avaliar a variabilidade da frequência cardíaca (VFC) durante o TC6M. Avaliar a associação entre o equilíbrio simpático vagal e desempenho do exercício, medido pelo TC6M, em mulheres com ES sem comprometimento cardíaco. Métodos: Esse foi um estudo transversal em que 69 mulheres com ES-DPI submeteram ao TC6M com VFC, Health Assessment Questionnaire-Disability Index (HAQ-DI), TFP (incluindo espirometria, medida da capacidade de difusão pulmonar ao CO-DLCO e medida de força muscular respiratória), força de preensão manual (FPM) e força muscular de quadríceps (FMQ). Resultados: A média da distância percorrida no TC6M (DTC6M) foi de 447 ± 78 m, sendo que 43,5% das participantes não atingiram 80% do previsto. A DTC6M correlacionou positivamente com FMQ (r = 0,418, P = 0,0004), capacidade vital forçada (r = 0,306, P = 0,011), DLCO (r = 0,360, P = 0,002), pressão inspiratória máxima (r = 0,268, P = 0,029) e pressão expiratória máxima (PEmax, r = 0,288, P = 0,019) e negativamente com idade (r = -0,378, P = 0,001), índice de massa corporal (IMC, r = -0,248, P = 0,039) e HAQ-DI (r = -0,438, P = 0,0001). Na análise de regressão linear múltipla, FMQ, IMC, DLCO, idade e PEmax explicaram 72% da variabilidade da DTC6M. Equação preditora para mulheres com esclerose sistêmica com DPI sem HP: DTC6M (m) = 441,7 + (4,552 × FMQkgf) - (5,653 × IMCkg/m²) + (0,817 × DLCO%previsto) - (1,204 × idadeanos) + (0,867 × Pemáx%previsto). Uma dessaturação durante o TC6M (SpO2≤4%) foi observada em 10,1% dos participantes. Foram observadas correlações significantes entre a DTC6M e os seguintes parâmetros da VFC: número de diferenças de intervalos NN sucessivos maiores que 50 ms (rs=-0,397, P = 0,013), faixa de baixa frequência (rs = 0,374, P = 0,023), faixa de alta frequência (rs = -0,372, P = 0,023), e índice do sistema nervoso parassimpático (rs = -0,342, P = 0,045). Nenhuma correlação significante foi notada entre o delta da saturação periférica de O2 e os parâmetros de VFC. Conclusão: Nosso estudo mostra que, em pacientes com ES-DPI, além da redução da difusão pulmonar, a deterioração da força muscular respiratória e periférica afetou negativamente o desempenho durante o TC6M. Em mulheres com ES, há uma interrelação da DTC6M tanto com a retirada vagal quanto com a hiperativação simpática. Essa relação entre o desequilíbrio autonômico e a pior performance ao exercício pode potencialmente aumentar o risco cardiovascular, mesmo em pacientes sem envolvimento cardíaco aparente. O controle do sistema nervoso autonômico do coração pode ser um potencial alvo no tratamento de pacientes com ES. Assim, abordagens medicamentosas e não medicamentosas que reduzem a hipertonia simpática e impeçam a retirada do parassimpático devem ser consideradas para neutralizar a disfunção autonômica na ES.
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