Fatores determinantes da capacidade funcional ao exercício no subgrupo de mulheres com esclerodermia associada à doença pulmonar intersticial sem hipertensão pulmonar

Resumo

Introdução: A esclerodermia ou esclerose sistêmica (ES) é uma doença crônica do tecido conjuntivo, caracterizada pelo espessamento da pele decorrente do excesso de fibras colágenas. As manifestações sistêmicas da ES envolvem o comprometimento pulmonar, cardíaco, renal e esofágico, além de afetar a força muscular, capacidade funcional e qualidade de vida. Uma vez que a ES é pouco estudada no âmbito da reabilitação, a avaliação mais detalhada da função pulmonar e capacidade funcional de exercício torna-se fundamental nesses pacientes. Até o momento não existem estudos que tenham avaliado os fatores determinantes da capacidade funcional ao exercício no subgrupo de ES associada à doença pulmonar intersticial (ES-DPI) sem hipertensão pulmonar, assim como a utilização do teste do washout de nitrogênio em respiração única (TWN2). Objetivo: O objetivo principal do presente estudo foi avaliar o impacto da heterogeneidade na distribuição da ventilação avaliada pelo TWN2 e da disfunção muscular periférica sobre a capacidade funcional ao exercício em mulheres com ES-DPI com envolvimento limitado do parênquima pulmonar. Como objetivos secundários, este estudo buscou: 1) comparar o desempenho entre mulheres com ES e mulheres saudáveis em relação à função pulmonar, capacidade funcional ao exercício, disfunção muscular periférica e qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS); 2) correlacionar a capacidade funcional ao exercício com a função pulmonar e a disfunção muscular periférica; 3) correlacionar a função pulmonar com a disfunção muscular periférica; e 4) correlacionar a QVRS de pacientes com ES com a capacidade funcional ao exercício, a função pulmonar e a disfunção muscular periférica. Métodos: Este foi um estudo transversal realizado em 20 mulheres com ES-DPI em tratamento ambulatorial. O grupo de indivíduos controles (20 mulheres) foi constituído por voluntárias saudáveis, que foram pareadas por idade, gênero, massa corporal, altura e índice de massa corporal. Foram realizados os exames de função pulmonar, o teste de caminhada de seis minutos (TC6’) e a avaliação de força muscular do quadríceps através da dinamometria isométrica de quadríceps. Além do mais, foi feita a avaliação da qualidade de vida através do Health Assessment Questionnaire Disability Index (HAQ-DI). Resultados: Nessa análise, a distância percorrida durante o TC6’ (DTC6’) correlacionou moderadamente com o slope de fase III do TWN2 (phase III slopeN2) (r=-0,675, P=<0,0001) e capacidade vital forçada (CVF) (r=0,520, P=0,0005), e razoavelmente com capacidade de difusão pulmonar ao monóxido de carbono (DLco) (r=0,387, P=0,013). Já a saturação periférica de oxigênio (SpO2) não apresentou correlação estatisticamente significativa com nenhum dos parâmetros de função pulmonar ou muscular. A correlação entre a DTC6’ e a ΔSpO2 não foi significativa (r=-0,270, P=0,092). Em adição, nós investigamos se as variáveis de função pulmonar e função muscular poderiam predizer independentemente o desempenho durante o TC6’. Nessa análise, o phase III slopeN2 foi a única variável independentemente preditiva para o TC6’, enquanto a força de quadríceps e a razão CVF/DLco foram as variáveis independentemente preditivas para a ΔSpO2. Em conclusão, o presente estudo mostra que, no subgrupo exclusivamente constituído por mulheres com ES-DPI, há uma heterogeneidade na distribuição da ventilação, o que explica grande parte da menor distância percorrida durante o TC6’. Em adição, a disfunção muscular e a anormalidade na difusão pulmonar explicam ao menos em parte a dessaturação de oxigênio desses pacientes durante o TC6’. Conclusão: Com os resultados dessa pesquisa, abrem-se perspectivas para acompanhar as novas estratégias de tratamento dos pacientes com ES que estão surgindo nos últimos anos.