Associação entre o “text neck” e dor cervical em adultos: um estudo transversal

Resumo

Introdução: A dor cervical (DC) é a quarta causa de incapacidade no mundo, sendo um potencial transtorno de saúde pública. Com o uso crescente dos smartphones, adquiriu-se novos hábitos posturais durante o uso destes aparelhos, e alguns autores sugerem que o “text neck” é a principal causa de DC. Entretanto, essa associação não foi encontrada no primeiro estudo observacional transversal com uma amostra e faixa etária restritas, realizado no Brasil. Sendo assim, é necessário realizar estudos com amostras maiores, com desenho longitudinal e com participantes com um espectro mais amplo de faixa etária, de 18 a 65 anos. Objetivo: Analisar a associação entre “text neck” e DC em adultos. Métodos: Este é um estudo transversal, parte de um longitudinal, com 582 adultos, com aplicação de um questionário de autopreenchimento com questões sociodemográficas, antropométricas, de estilo de vida, psicossociais e relacionadas a dor cervical e ao uso de smartphones. O “text neck” foi avaliado através do registro de duas fotografias subsequentes da postura do participante da pesquisa, em ortostase e sentado, com o dispositivo CROM (Cervical Range of Motion) para avaliar a angulação da cervical durante a digitação de um texto em seu aparelho celular. Foram analisados modelos de regressão logística para investigar a associação entre o “text neck” – avaliado através do ângulo de flexão cervical - durante a digitação do texto para o envio de mensagens pelo celular e os desfechos queixa e frequência de dor cervical. Potenciais fatores de confusão com um p < 0,2 na análise univariada também foram incluídos nos modelos de regressão logística. Resultados: As análises de regressão logística múltipla mostraram que o ângulo de flexão cervical com o participante em pé usando o smartphone não se associou à dor cervical (RC=1,00; IC 95% de 0,98 até 1,02; p=0,66), assim como não se associou à frequência de dor cervical (RC=1,01; IC 95% de 1,00 até1,03; p=0,056). O ângulo de flexão cervical com o participante sentado usando o smartphone também não se associou à dor cervical (RC=0,99; IC 95% de 0,98 até 1,01; p=0,93), assim como não se associou à frequência de dor cervical (RC=1,01; IC 95% de 0,99 até 1,02; p=0,13). Conclusão: O “text neck” não se associou tanto à queixa de dor cervical quanto à frequência de dor cervical em adultos.