Dor e disfunção musculoesquelética relativas à performance, qualidade de vida no trabalho e aspectos psicossociais em violinistas e violistas profissionais no rio de janeiro
Palavras-chave:
Dor Musculoesquelética, Transtornos Traumáticos Cumulativos, Doenças Ocupacionais, Estresse OcupacionalResumo
Introdução: Associa-se o aparecimento de dor musculoesquelética relacionada à performance em violinistas e violistas profissionais com sobrecarga de trabalho, excesso de repetição e postura. Muito tem sido estudado sobre a biomecânica do movimento executado por estes profissionais, apontando o adoecimento laboral e os diagnósticos que marcam, muitas vezes, a descontinuidade de seu ofício em virtude da ocorrência de dor. Entretanto, parece haver uma lacuna na literatura quando se
trata de compreender o aparecimento da dor musculoesquelética em musicistas, através de uma perspectiva voltada para a observação de aspectos psicossociais e qualidade de vida no trabalho envolvidos na sua performance. Objetivo: O objetivo deste estudo foi identificar aspectos psicossociais de estresse, ansiedade e depressão e condições de qualidade de vida no trabalho como possíveis preditores para a ocorrência de dor relacionada à performance de músicos violinistas e violistas. Métodos: Este estudo quantitativo observacional transversal, incluiu 122 músicos violinistas e violistas de 10 orquestras no Rio de Janeiro, de ambos os sexos, com 18 anos ou mais, com no mínimo um ano de profissão, e em atividade. Foram coletados dados sociodemográficos e aplicados os questionários: Questionário de intensidade e Interferência da Dor Musculoesquelética para Músicos versão Brasileira (MPIIQMBR); Questionário de Qualidade de vida no trabalho- versão abreviada (QWLQ-bref); e Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (DASS-21). A normalidade na distribuição dos dados foi verificada pelo teste de Shapiro-Wilk e análise gráfica dos histogramas. O critério de determinação de significância adotado foi o nível de 5%. A análise estatística foi processada pelo software estatístico SPSS versão 26. Foram determinados como desfechos da dor que interfere na habilidade de tocar os últimos 12 meses, últimos 30 dias, últimos 7 dias, e a variável criada a partir da presença da dor presente conjuntamente nos 3 desfechos anteriores, que foi chamada de grupo de dor constante. Os 4 desfechos foram divididos, para comparação, em grupos com e sem dor e a associação destes com as variáveis (escolaridade, sexo, uso de acessórios, acompanhamento fisioterápico, tempo de profissionalização, idade, faixa etária, instrumentistas, uso de acessórios, tempo (anos) que toca o instrumento, tempo que toca em orquestra, tempo (horas) que toca na orquestra, média de horas que toca fora da orquestra, domínios do DASS-21 e QWLQ-bref, respostas do MPIIQM-BR) em estudo foram analisadas pelo teste de Mann-Whitney para variáveis numéricas; e pelo teste de qui-quadrado (χ2) ou exato de Fisher para variáveis categóricas. Foi realizada Regressão Logística binária para identificar, entre as
variáveis em estudo, preditores independentes para dor que interfere na habilidade de tocar. Resultados: Foi encontrada alta prevalência de dor durante a vida neste grupo de músicos (95,1%), e o grupo de dor constante correspondeu a mais de 50% dos
casos (56,6%). As partes do corpo com maior prevalência de dor reportadas foram ombro (44,2%), punho (36,5%), escápula (21,2%) e cervical (21,2%). Observou-se que o grupo de dor constante apresentou as variáveis estresse (p = 0,014), há quanto tempo toca o instrumento (p = 0,040), há quanto tempo é profissional de orquestra (p = 0,020) e quantas horas por semana toca fora da orquestra (p = 0,016) maior que o grupo sem dor constante. Observou-se que o resultado do teste QWLQ-bref apresentou a pontuação de seus domínios (físico, psicológico, pessoal e profissional) entre 55% e 75%, o que é considerado como satisfatório, sem associação significativa entre grupos nos 4 desfechos. A variável estresse foi encontrada como preditor independente significativo para dor nos últimos 12 meses ((β=0,153 , RC=1,17, IC=1,00-1,35, p = 0,044), nos últimos 07 dias (β= 0,118, RC=1,12, IC=1,01-1,25, p = 0,027), e para o grupo de dor constante (β= 0,140, RC=1,15, IC=1,04-1,27, p = 0,006). Conclusão: Violinistas e violistas de orquestras do Rio de Janeiro apresentam alta prevalência de dor. A qualidade de vida no trabalho destes músicos não demonstra ser um fator determinante para a ocorrência de dor, entretanto, um achado importante é o de que o estresse se mostrou um dos preditores relevantes para este quadro.
Downloads
Publicado
Licença

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.