Avaliação da capacidade funcional, função pulmonar, força muscular e qualidade de vida no paciente com doença pulmonar pós-tuberculose

Resumo

Introdução: A tuberculose (TB) é uma doença de origem infeciosa que causa grande impacto na Saúde Pública. A doença pulmonar pós-TB (DP-PTB) causa sequelas estruturais e funcionais como espessamento pleural, bronquiectasia e fibrose pulmonar, gerando padrão obstrutivo, restritivo ou misto e impactando diretamente na qualidade de vida relacionada a saúde (QVRS). A prevalência de sequelas pulmonares da TB varia amplamente, de 18% a 87%, dependendo da população estudada e dos testes de função pulmonar realizados. Os dados prospectivos sobre os resultados no longo prazo da DP-PTB permanecem limitados e ainda não há escores prognósticos validados. A avaliação da DP-PTB deve ser feita clinicamente com todo paciente que termine o tratamento da TB. A avaliação da capacidade funcional, da força muscular, da função pulmonar e da QVRS em indivíduos com DP-PTB é de grande relevância para a prática clínica, possibilitando o estabelecimento de planos terapêuticos adequados. Objetivo: O objetivo desta Dissertação foi avaliar a capacidade funcional em pacientes portadores de DP-PTB e correlacionar esses achados com a função pulmonar, a força muscular periférica e a QVRS. Métodos: Trata-se de um estudo transversal e observacional, com avaliação quantitativa dos dados amostrais. O presente estudo foi realizado no Laboratório de Função Pulmonar do Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (HUPE-UERJ). Foram avaliados 47 pacientes de ambos os sexos que tiveram TB e permanecem com sintomas respiratórios. Após a medição das variáveis antropométricas e demográficas, os pacientes foram avaliados através dos seguintes testes: função pulmonar (espirometria, pletismografia corporal e medida da capacidade de difusão ao monóxido de carbono-DLCO; medidas de pressão inspiratória máxima-PImáx e pressão expiratória máxima-PEmáx; força muscular periférica (handgrip e força de quadríceps); e avaliação da capacidade funcional através do teste de AVD-Glittre. Resultados: A média de idade foi de 57 (32–65) anos, enquanto a mediana do tempo desde o final do tratamento para TB foi de 30 (26–33) meses. As forças de handgrip e de quadríceps estiveram reduzidas em 34% e 25,5% dos participantes, respectivamente. Na espirometria, padrão obstrutivo, padrão restritivo e exame normal foram diagnosticados em 46,8%, 31,9% e 21,3% dos participantes, respectivamente, enquanto 42,6% participantes tinham reduzida DLCO. A mediana do valor do tempo de TGlittre foi de 4,43 (3,48–4,96) min, que foi cerca de 15% maior que o tempo esperado para completá-lo. Houve correlação significativa do tempo de TGlittre com DLCO (rs=-0,532, P<0,0002), PImáx (rs=-0,407, P=0,005), PEmáx (rs=-0,382, P=0,008), handgrip (rs=-0,327, P=0,024), força de quadríceps (rs=-0,314, P=0,031) e vários domínios do SF-36. Na análise de regressão, DLCO, força de quadríceps e handgrip explicaram 39% da variabilidade do tempo de TGlittre. Conclusão: DP-PTB causa importantes repercussões sobre a capacidade funcional ao exercício avaliada pelo TGlittre. Estes pacientes apresentam disfunção muscular, deteriorada QVRS e danos na função pulmonar. Na DP-PTB, quando pior a função muscular e pulmonar, pior a capacidade funcional ao exercício.