Avaliação do deslocamento postural de pacientes hemiparéticos durante mudanças na distribuição de peso corporal

Resumo

Introdução: O acidente vascular cerebral (AVC) é geralmente acompanhado de déficits no controle da estabilidade postural. Dentre os sinais de alteração do controle postural em indivíduos pós-AVC, a assimetria na distribuição do peso entre os membros inferiores é uma das mais evidentes. O feedback visual do centro de pressão dos pés (CP) é amplamente utilizado como ferramenta terapêutica para correção dessa assimetria. Contudo, o padrão de deslocamento postural dos indivíduos pós-AVC durante tarefas de feedback visual não é totalmente elucidado. O entendimento desse padrão pode nos dar pistas sobre como o controle postural é afetado durante essas tarefas, fornecendo informação úteis para o desenvolvimento de intervenções mais eficientes. Objetivo: O objetivo do estudo foi investigar padrão de deslocamento postural de indivíduos pós-AVC durante tarefas de feedback visual para correção da assimetria de distribuição de peso. Métodos: Trinta indivíduos acometidos de AVC foram posicionados sobre a plataforma de força e instruídos a realizar duas tarefas: (i) manter-se na posição ortostática (postura quieta); (ii) distribuir o peso corporal simetricamente entre os membros inferiores, fazendo uso do feedback visual do próprio CP (tarefa feedback). Um único teste de 60s foi realizado para cada tarefa, havendo um intervalo de 1-2 min entre os testes. As coordenadas do CP foram obtidas através de uma plataforma de força com uma taxa de amostragem de 50Hz. A partir dos deslocamentos laterais do CP, foram calculadas as seguintes variáveis: distribuição de peso percentual (DPC; em percentual da massa corporal total distribuída sobre o membro parético); o desvio padrão (DPLAT); a velocidade média (VMLAT) e a frequência média (FMLAT). O teste de Wilcoxon foi utilizado para comparação entre tarefas (postura quieta vs. feedback), assumindo um α=0,017. Resultados: Os indivíduos foram capazes de manter uma DPC simétrica durante a tarefa feedback (DPC~5%) quando comparados com a postura quieta (DPC ~10%). Houve diferenças significativas para o DPLAT (P<0,001) e VMLAT (P<0,001), mas não para FMLAT (P=0,658), indicando que o deslocamento do CP durante a tarefa feedback foi maior e mais rápido que na condição postura quieta. Conclusão: Indivíduos pós-AVC apresentam um padrão de deslocamento postural mais instável durante a manutenção de uma distribuição simétrica do peso corporal guiado por feedback visual. Esse comportamento indica que o feedback visual não é capaz de compensar as alterações do controle postural nesses indivíduos. Desse modo, cabe o questionamento acerca do uso de feedback visual para correção da assimetria da distribuição de peso corporal e para reabilitação do controle postural nesse quadro clínico.