Força muscular de membros inferiores, controle postural e velocidade da marcha em indivíduos com ataxia espinocerebelar e controles saudáveis

Resumo

Introdução: A ataxia espinocerebelar (SCA) é uma família de ataxias cerebelares hereditárias dominantes que degeneram progressivamente o cerebelo e suas vias, provocando instabilidade postural e incoordenação. Objetivo: O objetivo é analisar o
desempenho destes indivíduos em testes relacionados à marcha e ao controle postural e compará-los à saudáveis. Métodos: Foram convidados a participar 39 indivíduos com SCA. Destes, 4 não aceitaram participar (N=35). Foram recrutados 30 participantes saudáveis pareados em gênero e idade. A amostra de pacientes foi caracterizada através da aplicação da Scale of the Assessment and Rating of Ataxia (SARA) e do Inventory of Non-Ataxia Signs (INAS). Todos os participantes foram avaliados através dos seguintes instrumentos: Five times sit to stand (5TSTS), teste de caminhada de 10m (TC10M) e Teste do alcance funcional (TAF) com acelerometria. Durante o TAF, a aceleração linear foi adquirida por meio de sinais de acelerômetros 3D integrados a um smartphone Apple (Iphone 13, designed by Apple in California USA, assembled in Brazil) posicionado na região lombar. Os pacientes foram subdivididos em três grupos, de acordo com os escores obtidos na escala SARA relativos ao nível de dependência para a realização de AVD (mínima-moderada, máxima e severa-total dependência). Para comparar o grupo controle e os subgrupos de pacientes, foi realizada uma ANOVA unidirecional, seguida de pós-testes em caso de efeito principal significativo. A análise do registro do acelerômetro durante o TAF foi feita comparando os dados dos pacientes saudáveis com pacientes através de um test t para amostras independentes. Resultados: Para as análises do 5TSTS, TAF e TC10M os dados dos 35 pacientes com SCA foram utilizados bem como de 30 controles saudáveis. Para a análise do sensor inercial, foram incluídos dados de 28 pacientes com SCA e de 22 saudáveis cujos sinais coletados tinham qualidade suficiente para serem analisados. Houve efeito principal na comparação entre grupos para todas as variáveis: 5TSTS (P<0,001); TAF (P<0,001); Tempo no TC10m (P<0,001); número de passos no TC10m (P<0,001). As distâncias alcançadas no TAF pelo grupo controle foram significativamente superiores às dos grupos máxima e severa-total dependência, enquanto para o grupo mínima-moderada dependência não houve diferenças significativas comparado ao grupo controle. Em relação às fases de movimento do TAF, não houve diferenças significativas para nenhuma variável (P<0,132). Conclusão: Os resultados indicam que a SCA impacta a marcha e controle postural dos pacientes. De maneira geral, indivíduos com SCA com maior dependência para as AVD e pior gravidade da doença tiveram o pior desempenho nos testes. Apesar de as distâncias alcançadas no TAF terem sido menores para os pacientes com SCA, as fases de movimento analisadas não mostraram diferenças significativas entre elas, indicando que o padrão de movimento não é substancialmente alterado nas diferentes gravidades. Estes resultados podem ajudar a otimizar o tratamento destes pacientes, ressaltando as mudanças que a progressão
da doença provoca, identificando as áreas nas quais os pacientes têm mais dificuldades e apontando para o uso de intervenções personalizadas e baseadas em resultados de avaliações específicas.