Fatores associados à postura corporal avaliada por fotogrametria computadorizada em mulheres submetidas a tratamento cirúrgico do câncer de mama

Resumo

Introdução: O câncer de mama é o tipo de câncer mais frequente entre as mulheres, sendo considerado um problema mundial de saúde pública. Após o tratamento para o câncer de mama podem ocorrer alterações da postura corporal que podem estar relacionadas a características sociodemográficas, clínicas, terapêuticas ou às complicações pós-operatórias. Porém, ainda não está bem definida a relação entre esses diferentes fatores e as alterações na postura. Os valores de referência da postura ideal ainda são controversos, tendo sido utilizados diversos métodos na sua avaliação. Dentre os quais, tem-se destacado o método fotogramétrico chamado Software de Avaliação Postural ou, simplesmente, SAPO. Objetivo: A presente dissertação teve por objetivos propor valores de referência para ângulos e distâncias de segmentos corporais em mulheres adultas saudáveis avaliadas pelo SAPO (manuscrito 1) e descrever as características sócio-demográficas, clínicas, terapêuticas e as complicações pós-operatórias relacionadas a alterações da postura corporal de mulheres submetidas ao tratamento cirúrgico para o câncer de mama (manuscrito 2). Métodos: No manuscrito 1, foi realizada uma revisão sistemática por busca em bases de dados eletrônicas, com os seguintes descritores: evaluation, posture, photogrammetry, “physical therapy”, “postural alignment”, postura, “avaliação postural”, fotogrametria e fisioterapia. Estudos publicados entre os anos de 2005 a 2014 foram incluídos. Os valores dos ângulos e das distâncias foram agrupados dois a dois, repetidamente, com finalidade de se estabelecer média, variância e desvio-padrão finais. No manuscrito 2, foi realizado estudo transversal em hospital público de referência do Rio de Janeiro, Brasil, em que foram incluídas mulheres submetidas ao tratamento cirúrgico para o câncer de mama com período mínimo de um ano de pós-operatório. Variáveis sociodemográficas, clínicas, terapêuticas e complicações pós-operatórias foram coletadas por entrevista, prontuário e exame físico. A postura corporal foi avaliada pelo SAPO. Resultados: No manuscrito 1, quatro estudos foram incluídos. Os valores de referência calculados para a vista anterior: 1,35°±3,11° (alinhamento horizontal da cabeça), 0,83°±1,60° (alinhamento horizontal dos acrômios), -0,22°±1,99° (alinhamento horizontal das espinhas ilíacas anterossuperiores), -0,85°±2,49° (ângulo entre os acrômios e as espinhas ilíacas anterossuperiores); para a vista lateral direita: 52,42°±5,40° (alinhamento horizontal da cabeça), -1,41°±3,17° (alinhamento vertical do tronco); para a vista lateral esquerda: 51,27°±4,53° (alinhamento horizontal da cabeça), -2,06°±2,20° (alinhamento vertical do tronco); e para a vista posterior: -1,27cm±21,69cm (alinhamento horizontal das escápulas em relação a T3). No manuscrito 2, foram incluídas 57 pacientes cuja maioria possuía baixo nível de escolaridade (57,9%), trabalhava em casa (64,9%), foi submetida à mastectomia (84,2%) e à linfadenectomia axilar (78,9%). Dentre as complicações pós-cirúrgicas, 50,9% apresentaram seroma; 54,4% sensação de peso; 50,9% alteração da sensibilidade axilar; 19,3% escápula alada e nenhuma paciente apresentou linfedema. Na avaliação postural, cabeça (média: -0,11); tronco (média: -1,16) e pelve (média: -0,55) inclinaram-se para a esquerda, ombros (média: 0,61) para a direita e houve diferença de 3,73 cm entre as escápulas. Nenhuma das variáveis foi associada com alteração na posição da cabeça e das escápulas. Porém quimioterapia (p=0,025) e seroma (p=0,011) foram associados com o posicionamento dos ombros; idade (p=0,035), índice de massa corporal (p=0,041) e sensibilidade no braço (p=0,003), com a posição da pelve; e a posição do tronco foi associada com idade (p=0,008), renda familiar líquida mensal (p=0,045), seroma (p=0,011) e sensibilidade no braço (p=0,019). Conclusão: Os valores de referência propostos pelo estudo podem servir de parâmetros para pesquisa científica e prática clínica. A ciência dos fatores associados à alteração postural pode auxiliar o estabelecimento de estratégias de prevenção e de tratamento dos mesmos.