Desempenho em testes de funcionalidade e incidência de disfunções musculoesqueléticas em jogadores de futebol de base durante a pandemia de covid-19

Resumo

Introdução: A recente pandemia de COVID-19 afetou significativamente todas as esferas da ação humana, incluindo o esporte. No futebol, as interrupções nas atividades causaram, além do prejuízo financeiro, mudanças no regime de treinamento e no calendário de competições, o que pode ter afetado negativamente o desempenho e a saúde dos atletas. Menor desempenho funcional após a interrupção das atividades e maior ocorrência de lesões esportivas são possíveis consequências das mudanças promovidas pela
pandemia. No entanto, o impacto dessas medidas na funcionalidade e nas taxas de lesões musculoesqueléticas de jovens jogadores de futebol no Brasil permanece pouco investigado. Objetivo: O objetivo geral desse estudo foi avaliar o desempenho funcional e a ocorrência de lesões relacionadas ao esporte de atletas de futebol de campo sub-20, antes e durante a pandemia de COVID-19. Métodos: Para realização do estudo, utilizamos informações médicas e técnicas registradas pelos departamentos de saúde de uma equipe local de futebol profissional. O estudo foi realizado em duas etapas, constando de um estudo observacional transversal (Estudo #1) e um estudo de coorte retrospectivo (Estudo #2). No Estudo #1, 41 atletas do sexo masculino foram avaliados durante as pré-temporadas dos torneios de 2020 e 2021, após a suspensão de todos os eventos esportivos. Foram aplicados quatro testes de
desempenho funcional que avaliaram as funções motora geral e muscular. No Estudo #2, foram coletadas informações sobre as lesões musculoesqueléticas das temporadas de 2019 a 2022, bem como o número de partidas disputadas e de atletas inscritos nos campeonatos. A prevalência e a incidência de lesões foram calculadas para cada temporada. Resultados: No estudo #1,
observamos que a maioria dos atletas apresentou desempenho moderado a bom nos testes funcionais na pré-temporada 2020, com alterações significativas na pré-temporada 2021 para os escores e classificação do teste de equilíbrio em Y, que apresentaram prejuízos na função. No estudo #2, observamos que a prevalência de lesões variou entre as temporadas, sendo cerca de 50% na
temporada 2019, 30% na temporada 2020 e aproximadamente 60% nas temporadas 2021 e 2022. A incidência de lesões foi de 5 casos por 1000 atletas jogos durante as temporadas 2019 e 2020, aumentando para 8-9 casos por 1000 atletas-jogos durante as temporadas 2021-2022. Conclusão: Em conclusão, as políticas de isolamento social instituídos nos primeiros anos da pandemia de
COVID-19 não influenciou de modo significativo o desempenho funcional em atletas de futebol sub-20, exceto para o desempenho em testes de equilíbrio. Além disso, no período imediato de distanciamento social não observamos mudanças nas ocorrências de lesões musculoesqueléticas, sendo significativos os aumentos na prevalência e incidência de lesões os anos subsequentes. Aparentemente, o retorno às atividades esportivas pós-pandemia não foi acompanhado dos devidos cuidados com a saúde dos jovens atletas.